sábado, 7 de março de 2015

Veja Com Seus Próprios Olhos, Pense Com Seu Próprio Cérebro

Há alguns anos atrás, tentei ler A Crítica da Razão Pura, de Kant. Não consegui passar das cinco primeiras páginas porque não fazia a menor idéia do que estava sendo dito ali. Na época, não tive dúvida de que o problema era exclusivamente meu. Tenho dificuldade em entender abstrações, o que quase que inviabiliza estudar ou ler qualquer coisa de filosofia. Se o pensamento filosófico é apresentado com algum exemplo concreto ou utiliza, como pano de fundo, situações concretas, como acontece em Atlas Shrugged, entendo sem problemas. Mas se a filosofia é apresentada de forma abstrata, chego a ficar tonta.



Mais recentemente, li um outro livro de filosofia. Não vou dizer quem é o autor pois, apesar de já ter falecido, em época em que é prática se processar por dano moral por qualquer manifestação de opinião, melhor guardar sigilo sobre a criatura.


Bem, terminando o livro, o primeiro pensamento que veio à minha cabeça foi: esse homem é um idiota. Não disse isso porque não entendi o que estava escrito. Entendi muito bem. Só que, na minha opinião, alguém que escreve aquilo, é um idiota.


Se falo para as pessoas em geral que chamei um filósofo renomado de idiota, provavelmente vão dizer que a idita sou eu. Talvez. Ou talvez não. A Crítica da Razão Pura realmente estava além da minha capacidade de compreensão. Mas esse livro, cujo autor chamei de idiota, não estava.


Claro, o fato de eu ter achado o teor do livro idiota não significa que o autor seja idiota. Pode ser apenas uma divergência de opiniões. E claro, normalmente a dele seria considerad a correta por ele ser ele e eu ser eu.


Depois deste livro, passei a questionar todas as situações em que eu confrontava o que está escrito com a minha opinião do que é inteligente ou não e a tendência é sempre decidirsno sentido de eu ser a idiota e o escritor, o conhecedor.


E normalmente achamos que sabe mais quem estudou mais, fez mestrado, doutorado e possui vários outros títulos, além de ter a condição de conhecer ou de sábio avalizada por pessoas que também são consideradas sábias. Assim, vamos sempre considerando que a opinião e dizeres do outro é melhor do que a nossa, sem questionar a opinião em si.


E aí cometemos um grande equívoco. Assim como é fundamental ver com nossos olhos, é ainda mais fundamental pensar com nosso próprio cérebro, livre dos preconceitos, tanto de que o outro não sabe nada quanto que sabe muito mais do que nós. Que o diga Syrio Forell.


Syrio Forell era o primeiro espadachim da cidade livre de Braavos, no universo imaginado por George R. R. Martin e contado na série A Song of Ice and Fire. Syro conta para Arya, sua aluna da dança da água (uma forma de luta de espadas) que o Príncipe de Braavos ganhava animais exóticos do mundo todo. Viva mostrando o animal para seus súditos. As pessoas vinham e se maravilhavam com o animal. Quando Syrio chegou e o príncipe lhe perguntou se já havia visto animal como aquele, Syrio respondeu que via milhares todos os dias, nas próprias ruas de Braavos. O príncipe perguntou como era possível. Syrio respondeu que aquele animal era um gato comum, cujas orelhas haviam sido comidas em brigas na infância e que, por comer na mesa do príncipe todos os dias, estava muito gordo. Mas era apenas um gato comum. Syrio tinha olhado para o gato com os olhos livres de preconceito enquanto os demais chegaram com a idéia pré concebida de que veriam um animal extraordinário. O preconceito os impediu de ver a realidade. Por conta desse fato, Syrio foi nomeado o primeiro espadachim de Braavos pelo próprio príncipe dono do gato. Em outra situação, durante uma aula de dança da água, alguns guardas chegam para Arya dizendo que o pai dela está chamando. Ela ia saindo, acreditando nas palavras dos guardas, quando Syrio pergunta porque o pai dela havia enviado soldados submetidos a uma outra casa feudal e não seus próprios soldados. E não deixou que Arya fosse. E realmente não eram enviados pelo pai dela, que estava preso. Por ter visto com seus próprios olhos no lugar de seguir o que dizem outros, ele conseguiu salvar Arya, que escapa de ser mantida refém.


Por isso, acho que nome, fama e títulos de alguém não devem ser o único motivo para que acreditemos cegamente no que alguém diz ou escreve. É preciso ver como nossos próprios olhos e pensar com nosso próprio cérebro. Algo não é verdade apenas porque alguém o diz, ainda que essa pessoa esteja coberta de títulos. E ainda que corramos o risco de sermos considerados idiotas por termos chamadovde idiota alguém que, a princípio, é considerado gênio. E claro, podemos errar. Mas erramos depois de vermos com nossos próprios olhos e pensar com nosso próprio cérebro. 

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