domingo, 15 de março de 2015

Por Que Virei à Direita? Não Consegui Entender.

Gosto muito das colunas de Luiz Felipe Pondé e João Pereira Coutinho, publicadas no caderno Ilustrada, do jornal Folha de S. Paulo, nas segundas e terças feiras, respectivamente. Por isso fiquei curiosa para ler o livro Por Que Virei à Direita, escrito por eles e também por David Rosenfield (ed. Três Estrelas). Sabia que o livro havia sido divido em três partes, três ensaios, um de cada autor, justificando porque passaram a seguir uma linha político filosófica de direita, no lugar de uma linha de esquerda. O entusiasmo com que comecei a ler foi o mesmo com que comecei a ler Deus, Um Delírio, do biólogo inglês Richard Dawkins (Editora Companhia. das Letras). A decepção também foi parecida.


Em Deus, um Delírio, Richard Dawkins tenta (e falha) demonstrar que a teoria da evolução é um fato comprovado. Não é. É uma teoria criada em cima de descobertas arqueológicas. As descobertas arqueológicas são um fato. A evolução é a teoria. Não obstante a beleza e lógica da descoberta (que eu, inclusive, acredito ser verdadeira), continua sendo uma teoria. Ele confronta a teoria da evolução com a idéia de Deus. Mas não convence no sentido de que uma é um fato (evolução) enquanto a outra é mito. Não pretendo dizer que uma vale mais do que a outra, mesmo porque acho que a idéia de Deus e a teoria da Evolução são perfeitamente compatíveis. Mas ele se propôs a uma coisa e não conseguiu. Daí minha decepção.


Tive a mesma sensação ao ler Por Que Virei à Direita. Os autores tentam justificar, do ponto de vista filosófico, porque o que se convenciou a chamar de direita em contraposição à esquerda, é melhor do que esta última, mas só conseguem atacar os esquerdistas. Mencionam as barbaridades feita pelos adeptos da chamada esquerda ao longo do século XX, no que tem toda a razão. Mas não conseguiram demonstrar como o mau uso da filosofica política dita de esquerda afeta a filosofia em si.


Dos ensaios em si, do que mais gostei foi o de David Rosenfield. Achei os outros dois um pouco "name droppers". Gostei de ver que Luiz Felipe Pondé, casado com uma psicanlista como ele informou no programa Roda Viva, concorda comigo no sentido de que o ser humano é dominado por suas paixões e não consegue usar a razão para contrá-las. Abrindo um parêntese, sempre achei que nossa capacidade de raciocinar nos especifica com relação aos animais nossos companheirs de gênero (biologia) mas não é a caracterísica que nos define.

Também concordo com Pondé no fato de que a esquerda, ao tentar estabelecer uma igualdade entre desiguais - afinal cada ser humano tem sua individualidade e capacidade - cria uma igualdade artificial e imposta, o que não se sustenta sozinha ou necessita da opressão e violência para se manter.

Mas, no geral, como mencionado acima, os autores falharam em apontar os erros da esquerda. Os erros que  apontam se referem à conduta dos esquerdistas e não à doutrina da esquerda em si. É o mesmo que criticar os ensinamentos de Jesus tomando-se por base a conduta dos cristãos (inquisição, venda de indulgências, perseguição aos muçulmanos nas cruzadas e aos judeus durante o holocausto e também em épocas anteriores, intolerância, apoio à escravidão) ou de Buda levando-se em conta a conduta dos Budistas ou de Maomé considerando os muçulmanos, etc.

Enfim, a proposta do livro é interessante mas de argumentação falha. E me fez acreditar mais naquilo que costumo dizer quando se discute qual filosofia política é melhor, esquerda ou direita: o problema não está na linha filosófica ou política. Está no ser humano. Se o ser humano se tratar e passar a ser senhor de si, qualquer linha filosófica ou política será boa. Ou talvez não haverá necessidade de nenhuma.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário