Seria muito confortável se o mal estivesse onde todos gostaríamos: lá fora, no mundo, no outro. Nunca dentro de nós mesmo. Mas não é o que acontece. O mal está em todo lugar, inclusive dentro de nós mesmos. Mesmo porque, se Deus criou o Universo, criou o mal também. Ou, pelo menos, permite que ele exista por algum motivo. A idéia mais elegante para o mal até agora, é que faz parte da dualidade na qual a vida em três dimensões existe.
Poucas vezes vi ou li algo que monstrasse a idéia de que o mal está dentro de nós como o filme A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, na versão original). Trata-se de uma versão para adultos e muito mais dark da história de Chapeuzinho Vermelho, que vai visitar a avó que mora no meio da floresta e, quando chega na cabana onde a velhinha mora, encontra o lobo que havia comido a avó e quase come a menina também. Se não fosse o surgimento providencial de um caçador que mata o lobo, era uma vez Chapeuzinho Vermelho.
A história no filme é parecida. Um lobo mata uma moça e homens da vila onde a menina morava, que é cercada por todos os lados, vão atrás do lobo nas grutas onde acreditam que ele vive. O lobo é velho conhecido da aldeia, já que matou outras pessoas antes, mas há vinte anos estava quieto, tranquilo, sem matar ninguém. Na expedição, o lobo faz mais uma vítima mas os homens conseguem matá-lo e trazem sua cabeça em uma estaca, como troféu. Na noite da comemoração, a cabeça fica ali, mostrando a vitória sobre o lobo.
Pelo menos é o que todos acham, menos o Padre que chega para "exorcisar" o lobo. De cara ele avisa que o lobo morto é um lobo comum, enquanto o que matou a menina é um lobisomem, criatura muito mais difícil de ser encontrada, principalmente porque durante o dia assume a forma humana. E, avisa, o lobo mora dentro da aldeia, que é onde vocês tem que procurar. O lobisomem é um de vocês. Claro que ninguém acredita, porque como todos nós, não acreditam que o mal possa estar dentro deles, dentro da aldeia, e ser um deles.
Mas era. O lobo era exatamente alguém dali de dentro. E o filme vai dando pistas e também vai mostrando como procuramos o mal no outro, em quem é diferente, em quem resolve viver à margem. Mas não adianta porque ele sempre vai aparecer, de uma forma ou de outra. Já foi dito que quem quiser tirar um cisco do outro do outro, deve primeiro tirar a trave do próprio olho. Nada mais correto.
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