domingo, 15 de março de 2015

Mulher Produto e Mulher Troféu

Carol Patrocínio, no seu blog Preliminares, hospedado no yahoo (http://br.mulher.yahoo.com/blogs/preliminares/mulher-produto-nova-mulher-trofeu-095403018.html) critiou a declaração do marido de Ana Hickman, quando ele se referiu a ela como um "produto de 32" anos. Em síntese, Carol Patrocínio compara a "mulher produto" à "mulher troféu" e defende o direito das mulheres de não serem vistas como um objeto, seja ele de beleza, de cozinha, ou qualquer outra coisa que sirva de motivo para as pessoas "se aproveitarem" disso. Porque, diz ela, "somos mais do que mulheres produto e merecemos mais do que homens interesse".

Esquece-se Carol que os relacionamentos humanos se fundam em trocam. A moeda de troca varia de pessoa para pessoa e normalmente consiste naquilo que cada um necessita naquele momento. E claro, cada um vai se relacionar ou tentar relacionar com quem tem o objeto disponível, seja ele dinheiro, fama, poder, emoções fortes, dependência (essa normalmente aparece nos dois lados em um relacionamento, por isso é melhor falar em codependência), alegria, capacidade de dar filhos. A lista é longa.

E também é uma via de mão dupla. Não existe homen interessado em mulheres objeto sem que haja uma mulher disposta a ser um objeto. Outro troféu. Ou cozinheira. Ou amante. Ninguém é inocente e todo mundo escreve a própria história. Se o marido de Ana Hickman se referiu a ela como um produto é porque, muito provavelmente, ela se transformou ou se deixou transformar nesse produto. E não consigo ver nada de errado nisso. Se o relacionamento deles gira em torno apenas desse "produto", se eles são felizes assim, o problema (se é que existe algum) é deles.

Essas discussões me lembram um episódio de Lie to Me. Nâo me recordo de qual temporada ou qual episódio. Nesse episódio a equipe do Dr. Carl Lightamn é contratada por um milionário para descobrir se a noiva dele sabia quem ele era (e, consequentemente, quão rico) quando se conheceram em um bar. Ela sustenta que não fazia a menor idéia de quem ele era. Eles descobrem que ela realmente sabia quem ele era quando se conheceram e, de resto, sabia que ele era muito rico. Mas descobrem, também, que ela é realmente apaixonada por ele. Apesar dela ter mentido a respeito de não saber dele e do dinheiro, ela realmente o amava. No caso, o dinheiro fazia parte de quem ele era e ela não via como uma coisa separada dele. Não havia interesse puro e simples no dinheiro ou na ascesão social que ele permite. Só que o fato dele ser extremamente rico implicava na capacidade de ser bem sucedido e era um dos motivos pelos quais ela o amava. Muito diferente seria se ela tivesse se aproximado dele única e exclusivamente por causa do dinheiro e se o dinheiro fosse a única razão de estarem juntos: aí o interesse seria unicamente no dinheiro e seria irrelevante quem o detivesse.

Esse raciocínio pode ser trazido para o que Carol Patrocìnio chama de mulheres objeto ou de mulheres troféu. O fato de que o marido de Ana Hickman se referiu a ela como um produto não significa que não a ama ou que ela não o ame, nem que o relacionamento deles seja falso. Significa que naquele momento, ele a via como um produto e ela se deixou ver assim. E se ele tenta negociar o contrato dela com a emissora, nesse aspecto ela realmente é um produto. Não significa que seja só um produto nem que não seja algo mais. Só que seja lá o que ele a considera, é problema deles e de ninguém mais.

As pessoas se relacionam de acordo com o que são seus valores, seus desejos, suas expectativas. E se encontram alguém que preencha essas expectativas, satisfaçam seus desejos e tenham os mesmos valores, o relacionamento engrena, ainda que de forma patológica. Considerar que o relacionamento entre um homem poderoso e uma mulher troféu é ruim por si só é desconsiderar a complexidade imensa da personalidade humana, que tem mais lados do que um prisma e reflete muito mais nuances do que o expectro da luz.

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