Quando a amazon se instalou aqui, fiquei feliz por poder comprar livros em português para ler no kindle. Amo meu kindle. Não viajo sem. Não vou a lugar nenhum sem ele. De preferência o que tem 3G, porque aí não dependo de nenhuma internet e posso comprar o livro que me der na telha, onde eu quiser e começar a ler na horinha. Antes só podia ler os livros em inglês da amazon americana e os em português tinha que comprar em papel mesmo. Ou então descobri algum site de livros de domínio público em pdf e mandava para a amazon converter para o formato do kindle e aí ler no kindle. Uma delícia.
Mas fiquei realmente assustada quando se abriu a possibilidade de eu converter minha conta da amazon americana (amazon.com) para a amazon brasileira (amazon.com.br). Afinal, são 15 anos de um relacionamento estável que se tornou multinacional, comigo comprando livros na amazon francesa, inglesa e até na alemã. Não, não leio alemão mas tem uns grupos de rock alemães muito bons. Isso na época pré itunes. E se na conversão eu não pudesse mais comprar os livros na amazon americana, onde tem quase tudo que eu quero ler, inclusive aqueles escritos em japonês e sem tradução aqui? Sabia que não perderia os que eu já comprei mas não queria correr o risco de perder uma das coisas mais gostosas que tem: ter vontade de ler um livro, procurar na amazon.com, ver que está disponível em formato kindle por 10 dólares, comprar e ver o livro chegar em um minuto. Melhor impossível.
Aí não converti. Continuei minha união estável com a amazon.com. Até descobrir a primeira traição que doeu muito. Um amigo muito querido me deu um livro de presente no formato kindle. Não consegui baixar porque, de acordo com a amazon.com, há restrições de direitos autorais na venda desse livro em formato kindle para residentes no Brasil. Como meu amigo também mora aqui, fiquei indignadíssima, afinal ele não só comprou e leu o livro no kindle como me deu de presente. Fuça daqui, pergunta dali, investiga acolá descobri o seguinte: meu amigo mora aqui mas tem cartão de crédito americano. Para ele, o acervo kindle da amazon.com é ilimitado. Em segundo lugar, independentemente de onde eu moro, o que manda na hora de poder comprar um livro é o local da fatura do meu cartão de crédito, que é aqui mesmo. E finalmente, descobri que os direitos de distribuição de um livro em formato digital são complementamente diferentes dos direitos de distribuição do mesmo livro em papel. Tanto é verdade que eu simulei uma compra desse mesmo livro na versão em papel e teria dado certo se eu tivesse finalizado a compra. Muito bizarro eu conseguir comprar o livro em papel na amazon.com e não poder poder exatamente o mesmo livro na versão digital. Mais bizarro ainda foi o mesmo amigo, não desistindo, me deu o mesmo livro de presente através do kobo. Consegui baixar em inglês. Estranho. Estranhíssimo. Isso tudo sem falar que nem pensar em comprar livros no formato kindle nas outras amazon: a frances e a inglesa. Tudo por causa dos tais direitos autorais. E claro, podendo comprar os mesmíssimos livros nos mesmíssimos sites inglês e francês da amazon e tê-los entregue na minha casa aqui.
Passado o impacto da traição, afinal eu achava que todo o acervo do kindle estava disponível para eu comprar, bastando querer e dar um cliquezinho no mouse um passar o dedinho no tablet, fui me acalmando e descobrindo que se não posso ter tudo da amazon.com por causa de direitos autorais posso ter um pouco de cada. Criei uma nova conta na amazon brasileira e vou comprando os livros à medida em que vou querendo, usando essa ou aquela amazon ou essa ou aquela conta.
O que era uma agradável união estável acabou, portanto, virando uma poligamina: amazon americana, francesa, inglesa, alemã e agora, brasileira. Faltam horas para ler tanto assim. A vida é muito curta mesmo.
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