segunda-feira, 9 de março de 2015

Análise Politicamente Incorreta do Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo

Terminei de ler o Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo (Leandro Narloch, Ed. Leya Brasil). Assim como seu primo Guia Politicamente Incorreto da Filosofia (Luiz Felipe Pondé, Ed. Leya Brasil), é um libelo anti comunista e pró capitalismo. Nada contra. Afinal, não consigo pensar em nenhuma invenção ou descoberta feita por pessoas em países comunistas/socialistas e que tenham tido algum efeito na nossa vida, como a internet, redes sociais, tablets, smartphones, todos criações de pessoas vivendo em países capitalistas. Só que a maior parte do livro não convence.

O livro proporciona uma leitura agradável para uma tarde chuvosa. É bem escrito e interessante, mas faço as ressalvas abaixo.
Tudo aquilo sobre a vida particular de Gandhi, se teve ou não teve um relacionamento homossexual (há referências a vaselina em cartas escritas a um amigo alemão) ou se realmente dormia nu com mocinhas de 18 anos, ele já na casa dos setenta, não alter em absolutamente nada tudo o que fez em prol da independência da Índia. Concordo com o autor que se os colonizadores não fossem os ingleses, as coisas não teriam sido tão tranquilas como foram. Mas ainda assim, tudo o que é dito sobre Gandhi não altera em nada a imagem que tinha dele.

O mesmo não ocorre com os comentários a respeito de Madre Teresa de Calcutá. Já havia lido em outro local que ela glorificava o sofrimento de tal forma que se recusava a dar tratamento ou permitir que fossem tratadas pessoas sob seus cuidados, sob o argumento (falho) de que o sofrimento nos aproxima de Deus. E não era por falta de fundos. Sua pessoa era tão popular que as doações que lhe eram dadas chegavam aos milhões de dólares. Se Madre Teresa não ajudava (podendo) pessoas que a procurava por ajuda, sua imagem desmorona. Nesse ponto o livro é muito interessante.

A parte sobre nazismo soa como puro blá blá blá. Simplesmente não convence ao falar que eram os nazistas eram os politicamente corretos da época. Não eram. Nenhum politicamente incorreto vai dizer que sua própria raça é superior a todas as demais e se voltar contra uma parcela da população que, convenhamos, era responsável por uma parte significativa das conquistas daquele país. O politicamente correto surgiu para colocar um pouquinho de educação nas relações pessoais, numa tentativa de estabelecer limites na falta de educação verba. O efeito foi muito mais além. Chegou ao ponto de se proibir a referência a algo pela palavra mais exata para se definir esse algo, exigindo a utilização de um substituto complicado e bobo. Cito como exemplo a palavra "negro". Antigamente significava uma pessoa de pele negra. Agora ficou politicamente incorreto se dizer negro. Afro americanos ou afro brasileiros. Na realidade, a condição pejorativa da palavra negro estava na entonação e contexto de quem a pronunciava e não na palavra em si. E assim foi com todas as palavras nas quais o politicamente incorreto se meteu. Mas voltando ao livro. Os nazistas eram bons de propaganda mas unicamente porque falavam a pessoas que colocaram de lado sua capacidade de pensar e raciocinar e que optaram por escolher o caminho extremamente fácil e confortável de ter alguém que pensasse por elas e as dissessem o que fazer. Qualquer pessoa que parasse e pensasse um pouquinho que fosse veria a falta de lógica, de sentido e o absurdo de toda a ideologia.

A Igreja não destruiu a cultura clássica e a preservou? Discordo. A Igreja realmente preservou um pouquinho da cultura clássica mas destruiu a maior parte. Manuscritos contendo textos inestimáveis escritos por gregos e principalmente romanos foram destruídos por serem considerados heréticos ou foram apagados dos manuscritos onde estavam escritos para que textos religiosos pudessem ser escritos ali (The Swerve - How the World Became Modern, Stephen Greenblatt, Ed. WW Norton). O que foi preservado foi uma parte mínima do que existia.

Galileu não foi assim tão perseguido pela Igreja? Bem, ele foi ameaçado com a fogueira se não voltasse atrás em sua teoria "herética" de que a Terra girava em torno do Sol. E ele, para se manter vivo, voltou atrás. Diz a lenda que desceu as escadas do local onde foi condenado murmurando para si próprio "mas ainda assim a Terra gira, a Terra gira, a Terra gira". Não é possível confirmar essa lenda mas é bem provável que algo parecido tenha mesmo se passado, com Galileu supostamente abjurando sua teoria de que a Terra girava em torno do sol e, interiormente, afirmando para si próprio que ela girava sim.

Gostei muito da parte que compara a Consolidação das Leis do Trabalho editadas sob o governo de Getúlio Vargas com as leis trabalhistas facistas, editadas sob o governo de Benito Mussolini. De todas as leis trabalhistas que seguiram o modelo facista, as brasileiras são as únicas que não se atualizaram depois da queda daquele regime horroroso. E se tratam de leis que dão um belo tiro na livre iniciativa, no livro mercado e tratam como criminosas as pessoas que correm o risco empresarial e constituem uma empresa, fazendo a economia andar, gerando empregos e, claro, empresas.

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