sábado, 7 de março de 2015

Mais Freud, Menos Prozac

Como falar do homem que libertou o ser humano da pior das prisões: aquela que ele cria para si mesmo sem se dar conta.


Falo de Sigmund Freud, cuja biografia, escrita por Peter Gay, acabei de ler.


Nas suas próprias palavras, ele foi a pessoa que demonstrou que a razão não é senhora nem dentro da sua própria casa, terceiro golpe no orgulho humano, depois de Copérnico ter demonstrado que a Terra não é o centro do universo e Darwin ter nos colocado no reino animal.


Peter Gay não se limita a narrar fatos. Consegue colocar-nos frente a frente com a pessoa sensacional que foi Sigmund Freud. Começa falando do pai, judeu pacífico que aceitava as humilhações cada vez maiores no Império Austro húngoro de meados do século XIX e termina mostrando o horror da perseguição nazista que fez com que Freud, já velhinho, tivesse que fugir da Áustria, país que tanto amava, para Londres, a fim "morrer em liberdade".


A figura dele é tão fascinante quanto a ciência que desenvolveu para tratar a mente: "the talking cure", como ficou conhecida. A partir de uma paciente que lhe foi encaminhada pelo amigo Josef Breuer, para muitos o verdadeiro criador da psicanálise, começou a desenvolver essa linha de tratamento psíquico. Dr. Breuer descobriu que os sintomas da histérica Bertha Pappenheim (Anna O.) aliviavam-se após ela rememorar experiências tramáticas de sua infância ou do passado mais recente. A partir daí, Freud começou a desenvolver sua linha de tratamento utilizando experiências obtidas com sua auto análise e a análise de seus sonhos.


Não foram apenas suas experiências internas que fundamentaram seu trabalho. Freud passou por experiências das quais a maioria das pessoas passa alheia durante toda a vida: perdeu seus pais, uma filha, brigou com amigos, sofreu preconceito racial (era judeu em uma época em que o antissemitismo crescia muito), foi traído por pessoas em quem confiava, viveu uma guerra mundial e toda a carência que se seguiu a ela, como fome, falta de remédios, aquecimento, foi preterido por conta de ser judeu, obteve fama mundial e reconhecimento científico ainda em viva, passou por momentos de conforto financeiro e outros sem ter o que comer. E nada disso fez com que desistisse do que se propusera e até o final da vida continuou trabalhando, revendo, conceitos, trocando experiências e idéias com seus seguidores.


Mais interessante que a psicanálise é ver que seu criador não se via com um super homem ou um ser excepcional. É possível ver, atrás de todo o gênio, um ser humano com sentimentos, emoções, idéias, medos e alegrias muito parecidos com os da humanidade em geral. Acho que por isso a psicanálise tem um efeito tão grande no tratamento das doenças psíquicas, afinal, seu criador passou por quase tudo ele mesmo e pode falar através da própria experiência. Nada do que disse teve o gosto de segunda mão.


Parafraseando Lou Marinoff, Mais Freud, Menos Prozac!!!!

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