sábado, 7 de março de 2015

Coração das Trevas é a Treva

Existem alguns livros que são considerados clássicos por professores de literatura e críticos. Para mim, porém, livro é igual música: assim como não há música boa ou música ruim, mas sim música da qual a gente gosta e da qual a gente não gosta, com livros é a mesma coisa. Principalmente porque livros, mais do que contar uma história ou servir de meio para o autor expor suas idéias, tem a possibilidade de tocar a alma do leitor, trazer à tona emoções e sentimentos adormecidos e, ainda, transportar que os lê a um outro mundo.


Por isso, quando leio algum livro com o subtítulo de "clássico", tento ler como se não soubesse disso, como se fosse um livro como outro qualquer. É difícil porque quanto mais antigo o livro, mas resenhas já recebeu. E agora, com o inacreditável acesso a qualquer forma de informação, saber o que se pensa de um livro por aí demora só alguns minutos.


No caso de Heart of Darkness, de Joseph Conrad (Coração das Trevas, na versão em português), fiquei curiosa porque o filme foi a base para o roteiro de Apocalipse Now. E eu gostei muito do filme. Vi logo que comprei uma televisão de LCD. Era a versão do diretor, com vários minutos de acréscimo.


Odiei o livro.


Achei a história pesada e sem sentido. A escrita não flui e é obscura. Havia passagens em que não fazia idéia do que estava acontecendo. Levei semanas para ler um livro que tem pouco mais de cem páginas. Conta de história de um grupo de colonizadores ingleses indo em direção à selva africana à procura de um homem que desapareceu na mata. Quando o encontram, a única coisa que ele sabe falar é "the horror" "the horror". Não consegui entender porque o livro é considerado pela crítica e especialistas em literatura como uma amostra do que os colonizadores europeus fizeram na África, no pior sentido possível.


Para se ter uma idéia do que foi a colonização da África, Out of Africa, da Isaa Dinensen é muito mais ilustrativo. E assim como Heart of Darkness, é ficção.  Tem também o Safari da Estrela Negra. Esse não é ficção mas dá uma aula de como é a África hoje e porque a colonização fez (quase) tudo errado.


Enfim, o livro é "a treva".


Claro que sempre se pode argumentar que o problema não é o livro: sou eu. Não ter gostado simplesmente demonstraria minha incapacidade de compreender o espírito do livro, o que o autor queria mostrar. Pode ser que sim ou pode ser que não. Mas não faz a menor diferença. Como disse no início deste post, ler um livro é uma atividade tão subjetiva quanto ouvir uma música. E se não há uma conexão entre livro e leitor, é irrelevante se o livro é um clássico pulp fiction. Sua função ficou esvaziada, pelo menos com aquela pessoa. No caso, eu.

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