Na coluna, ele narra como acordou com a cama balançando e rangendo e depois viu a mesma coisa no lustre. E acreditava que terremotos não chegavam até Veneza. Mas chegaram.
Para Buda, e claro, para os budistas, tudo é impermanente. Tudo passa. Não dá para buscarmos segurança em nada a não ser no que eles chamam de vazio interior. Que pode ser atingido através da meditação.
A idéia da impermanência não é exclusiva dos budistas. Os sufistas (ala mística do islamismo) também fala dessa impermanência de tudo. Como os sufistas falam através de histórias, vou contar uma que li em um email recebido há muito tempo. Não sei de quem é a história, só sei que é sufi. E não me lembro de quem mandou o email. A história é assim: um rei poderoso chamou o maior sábio do país e pediu que lhe informasse toda a sabedoria do mundo em apenas uma frase. O sábio escreveu a frase em um pedaço de pergaminho e deu para o rei, que o enrolou e guardou em um anel, sem le-la. Passaram-se alguns anos e o país se envolveu em guerra com o país vizinho. Durante uma das batalhas, o rei se perdeu de seus soldados e se viu em um local deserto, sozinho, sem comida e sem ajuda. Já desesperado, lembrou-se do sábio, do anel e da mensagem. Abriu o anel e leu: "isso vai passar". E passou mesmo. Dias depois, encontrou-se com parte dos seus soldados, reuniram-se aos demais e conseguiram ganhar a guerra. Já de volta na capital do reino, quando desfilava pelas ruas da cidade em comemoração à vitória, chamou o sábio para ficar ao seu lado, no carro. Quando passavam pela praça principal, a multidão aplaudindo, o sábio olhou nos olhos do rei e falou: agora abra o anel e leia a mensagem. O rei fez como o sábio lhe falara e leu: "isso vai passar".
Porque os terremotos vem de vez em quando, sem avisar, lembrei de uma cena do livro Alice Por Detrás do Espelho, continuação do Alice no País das Maravilhas. É mais ou menos assim: depois que atravessa o espelho, Alice chega em um canteiro onde as flores falam (can talk, na versão em inglês). Ela fica intrigada e pergunta para as flores o motivo de conseguirem falar (can, em inglês, também significa a capacidade de fazer alguma coisa). De onde eu velho, explicou Alice, as flores não conseguem falar. As flores responderam que não era verdade. Todas as flores conseguem falar. A questão é que de onde Alice vinha, os canteiros eram macios demais e por isso as flores estavam sempre dormindo. E pediram para ela por a mão no canteiro delas. Alice constatou que era duro como uma pedra.
Acho que os terremotos vem para dar uma sacudida na gente quando estamos dormindo ou confortáveis demais.
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