Em uma chamada de um programa da globo, a respeito da devastação ilegal da Floresta Amazônica, me chamou a atenção um homem contando que vende uma árvore enorme e centanária por apenas R$40,00. Digo apenas porque, para os nossos parâmetros, R$40,00 não é muito dinheiro. Mas, pela aparência física, a pessoa em questão aparentava ser muito pobre e, para ele, acredito que R$40,00 é muito dinheiro.
Esse fato me fez lembrar de um texto chamado Two Concepts of Liberty (http://www.wiso.uni-hamburg.de/fileadmin/wiso_vwl/johannes/Ankuendigungen/Berlin_twoconceptsofliberty.pdf)de Isaiah Berlin (1909/1997). Nesse texto, ele discorre sobre os conceitos de liberdade desenvolvidos por filósofos ao longo do tempo e analisa o fato de que liberdade não é corolário de igualdade, muito pelo contrário. Sem querer analisar o texto todo, a chamada que vi na TV me fez lembrar do texto porque, nele, Isaiah Berlin sustenta que uma pessoa que passa fome e não tem suas necessidades básicas atendidas, não vai se preocupar se é uma pessoa livre ou não. A preocupação com a liberdade, além de ser algo historicamente muito recente, é secundária à preocupação com a sobrevivência. Paralelamente a isso, acho muito difícil conseguir fazer uma pessoa pobre entender a importância de se preservar uma floresta ou mesmo um ambiente. Essa pessoa vai ver cada árvore como sua - provavelmente única - forma se sustento.
Esse mesmo raciocínio pode ser utilizado para se entender porque pessoas vendem seu volto a quem lhes dá em troca algo como R$10,00: é a solução imediata de uma questão de sobrevivência, enquanto a necessidade de se votar em alguém que vá, efetivamente, desempenhar corertamente a função para a qual foi eleito, é algo abstrato, vago e, muitas vezes incompreensíveis.
Osho, um dos maiores pensadores do Século XX, costumava dizer que a iluminação espiritual é mais fácil de ser atingida por pessoas ricas, pois elas já tiveram acesso a tudo que pode ser obtida por meio do dinheiro e sabem que a satisfação com essas coisas é momentânea. Quem é pobre, porém, além da preocupação com seu sustento, não tem como saber, pela experiência, que os bens conseguidos com dinheiro provocam uma satisfação efêmera.
Enquanto houver miséria, acho difícil haver eleitores conscientes e uma preocupação efetiva com o meio ambiente.
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