sexta-feira, 13 de março de 2015

Mulheres Peludas

Existe um movimento internacional que defende o direito das mulheres não se depilarem. No Brasil, o projeto se chama "Pelos Pelos" e apresenta fotos de mulheres nuas que deixaram de se depilar em nome da "liberdade de escolha". Essa "liberdade de escolha" seria uma alternativa à obrigada que as mulheres sentem em se depilar.

Será?

Nunca achei que a depilação feminina fosse algo obrigatório. Há países europeus onde as mulheres não se depilam nem no verão. Lembro de um verão que passei em Florianópolis há alguns anos. No mesmo hotel em que me hospedei havia uma família de italianos (pai, mãe e duas crianças). A mulher não tinha as axilas depiladas como todas as outras mulheres na praia (pelo menos que eu tivesse visto). Dois dias depois ela apareceu com as axilas lisas, sem pelos. Não tenho como saber o motivo por detrás da depilação mas acredito que ela percebeu os olhares das pessoas em geral. Mas, no fundo, depilou porque quis.

Quando leio que algumas mulheres não querem se submeter à ditadura da moda, ou do machismo ou seja lá do que e por isso não querem mais se depilar, na realidade o que querem é outra coisa. Querem que sua escolha não provoque determinada reação nas pessoas e, sim, provoquem outras. No caso dos pelos especificamente (isso vale para outras coisas também), querem ser admiradas apesar deles e, também, querem não ser consideradas sujas ou sem higiene. E isso não é possível. A mesma liberdade que garante às mulheres não mais se depilarem, procedimento que nunca foi obrigatório, garante a qualquer pessoa achar o que quiser de pernas e axilas femininas peludas. Liberdade vale para todo mundo e não só para alguns.

E além disso, a forma como nos apresentamos ao mundo não é simplesmente algo "ditado pela moda e por meio do qual alguns ganham milhões". É algo que vai muito além disso. Trata-se de um símbolo que tenta sintetizar quem somos, o que pensamos, o que sentimos e como nos relacionamos com o mundo. Mais do que uma simples "moda", o ato de depilar, ou de usar barbas longas (no caso dos homens) ou de ter o rosto liso, cabelo curto ou comprido, além de inúmeros outros, tem toda uma filosofia por detrás. Quem opta por uma determinada apresentação pessoal, vai ter que lidar com o fato de que a aparência conta, e conta muito e que aquela aparência é um símbolo. E não é algo superficial, uma mera "moda". Em fotos de mulheres anos 30, por exemplo, é praticamente impossível encontrar alguém com cabelo abaixo dos ombros. Todas as mulheres da época tinha cabelo curto. Por que? Por que foi a primeira vez na história ocidental que as mulheres se permitiram cortar o cabelo. Mais do que uma "moda", ter o cabelo curto era a maneira das mulheres dizerem que estavam vivendo no contemporâneo. 

Não se depilar em uma época em que a depilação é um símbolo, implica em ter que lidar com o fato de que o símbolo continuará  o mesmo significado de antes. Tentar mudar o significado é possível mas costuma demorar e nem sempre é dá certo. 

A depilação, a meu ver, tem um significado de feminilidade, uma forma de diferenciar as mulheres dos homens. Um caminho inverso seria os homens começarem a se depilar. O símbolo continuar com o mesmo significado e os homens teriam que lidar com o fato de que seriam considerados femininos. E não poderem fazer nada a respeito antes que o significado do símbolo seja alterado pelo tempo. 

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