sábado, 7 de março de 2015

A Parte e o Todo - Uma Aula de Humildade

Li A Parte e o Todo, de Werner Heisenberg (Contraponto Editora, 2a Edição, 2011) indicada por uma amiga. Na época já gostava de física quântica e já tinha lido alguma coisa sobre o assunto, mas não tinha noção da importância das descorbertas nesse campo. O livro, por outro lado, me foi indicado não por causa do seu conteúdo técnico, mas por causa do contúdo literário e das impressões do autor.


A Parte e o Todo não é uma autobiografia no sentido clássico da palavra. É mais uma compilação das conversas, cartas e impressões de Werner Heisenberg a respeito da época em que viveu (início do século XX), das pessoas que conheceu, como Einstein, Pauli, Bohr, da Segunda Guerra e do seu trabalho como físico, sem entrar em detalhes técnicos.


Quando li o livro, a parte que mais me impressionou foi a discussão que ele teve com outros cientestas alemães em um campo de prisioneiros dos aliados. A Guerra já havia terminado, a Alemanha havia se rendido e eles estavam presos, aguardando saber o que seria feito deles. A discussão era a respeito da bomba atômica, tornada possível graças à descortas deles próprios no campo da física atômica. Tentavam decidir até que ponto eram responsáveis pela destruição causada em Hiroshima e até que ponto eram inocentes.


Concordo com a conclusão a que chegaram: um cientista é responsável pelas coisas que inventa mas não é responsável pelas coisas que descobre, porque estas últimas já estavam por aí, não foram criadas. Não haviam criado a bomba atômica: apenas descobriram mecanismos que permitiram sua criação.  Dito de outra forma, eles fizeram uma descoberta e o uso feito dessa descoberta por outras pessoas não pode ser considerado responsabilidade deles. Foi exatamente essa a resposta que o Deus Dionísio, criador do vinho, deu aos Deuses do Olimpo, quando chamado a prestar contas do que o vinho fazia com as pessoas. Ele disse para os Deus: Eu criei o vinho, o uso que vocês fazem dele é responsabilidade de vocês, não minha.


Voltando ao livro de Heisenberg. Tempos depois, lendo mais a respeito de física quântica fui ficando a par da importância que ele teve quando desenvolveu o conceito que levou ao que é conhecido como "Princípio da Incerteza": na análise de uma partícula subatômica, quando mais precisa for a informação a respeito da sua velocidade, mais incerta será a informação sobre a sua localização e vice versa. Só que essa importância não transparece no livro. Apesar da sabedora que ele demonstra ter tido, não há um graminha de auto importância ou arrogância. Não sei nem se ele teve noção da grandeza da sua contribuição, mesmo recebendo um Nobel pela criação da Mecânica Quântica. E é isso que eu acho que é humildade. A pessoa conquista algo grandioso, descobre algo grandioso mas continua sendo ela mesma, com a exata noção de que é apenas uma parte de um todo muito maior.

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