José Eduardo de Almeida Leonel Ferreira
Paris é psicoativa. Não há propriamente a sensação de estar em uma cidade. Sim, existem ruas, avenidas e calçadas, mas não parecemos passar por elas. Na verdade, nos movemos num ambiente mental que parece ignorar estes detalhes concretos. Há uma forte impressão de que ingressamos, com o correr do dia, no estado de “fluxo”, no qual os fatos se sucedem numa cadeia mental de sensações que parecem ignorar o tempo real e a materialidade das coisas.
Você não conhece Paris, você sente Paris. Você não anda por Paris, você “flui” por Paris. No final do dia, claro, há a lembrança dos museus visitados, da comida perfeita, etc, mas só se você pensar nos fatos isolados. O que é estranho é que, como um todo, os estados mentais é que prevalecem, como em um condição onírica na qual você se lembra do medo, da alegria que teve, mas não do roteiro específico e completo do que sonhou. Paris, como nenhum outro lugar que conheci, parece conseguir rasgar a capa da realidade, esta chata, para te envolver nas brumas de alguma coisa equivalente a uma vivência alternativa, entorpecidamente feliz. Não aquela felicidade imbecil dos comerciais de televisão, intoxicados pela idéia da felicidade adolescente, exultante, eufórica. Não. Falo da felicidade de que nos contava Tom Jobim ao observar, calmamente, belas mulheres passeando em Copacabana e cujo sentido parece ter se perdido nestes tempos de aceleramento compulsório de todas atividades humanas. Falo de uma delicada alteração do espírito no qual a mente se aquieta e várias belezas se acumulam de modo deliciosamente desorganizado e holográfico dentro de nós, para formar a impressão generalizada de que o belo nos intoxicou de tal jeito que rompeu, ainda que momentaneamente, a casca dura e cruel que nos separa dos sonhos.
sexta-feira, 13 de março de 2015
PARIS, A CIDADE PSICOATIVA
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