A idéia de que meditação é o poder de parar de pensar é muito comum. Eu também tinha essa idéia. Meditação não é bem isso. A meditação, realmente, faz os pensamentos pararem. A diferença é sutil mas existe. O próprio ato de tentar parar os pensamentos já é um pensamento. Parar de pensar é um efeito da meditação e não é a meditação em si. Quem está em estado meditativo (imensamente difícil de se atingir, há necessidade de anos e anos de prática) não pensa. E para quem não pensa, o tempo para.
Então, o que é meditação? Meditação é o que acontece quando estamos 100% no momento presente. Estamos com corpo, mente e alma no aqui e agora, seja lá o que estivermos fazendo. Há pessoas que conseguem atingir esse estado tocando ou ouvindo uma música, pintando um quadro, dançando, olhando um quadro, conversando com alguém. Qualquer atividade, por mais banal que possa ser considerada, se feita com mente, corpo e alma, se transforma em meditação.
Há técnicas e mais técnicas de se meditar. Há a zazen, os monges zen budistas, que foca a atenção em funções corporais como respiração, há a transcedental, que utiliza um mantra. As técnicas todas não são a meditação mas apenas formas de se chegar a ela.
E como a sensação de tempo passando ocorre na mente, e o tempo para ser percebido precisa do passado e do futuro, e são os pensamentos que nos dão essa noção de tempo, se a pessoa está em atitude meditativa, o tempo para. Claro que o tempo marcado pelo relógio continua correndo. Mas a percepção subjetiva de tempo que cada um tem, para completamente.
Para se atingir esse estado de meditação são necessários anos de prática. A mente é persistente e os pensamentos são inesgotáveis. Mas há momentos durante a vida, ainda que durem frações de segundo, em que estamos tão absorvidos em alguma coisa que não há mais pensamentos e nos tornamos UM com o que estamos fazendo. Estamos em atitude meditativa. E nesse momento o tempo para.
E quando a vida é vivida de forma meditativa, qualquer coisa que façamos adquire uma qualidade diferente. Conta uma história zen que um discípulo perguntou para seu mestre, que havia atingido a iluminação, o que ele fazia antes de se iluminar. O mestre respondeu: "eu comia, dormia, cortava lenha e carregava água". O dispcípulo perguntou o que ele faz agora, depois de atingir a iluminação. O mestre respondeu: "eu como, durmo, corto lenha e carrego água". As atividades são as mesmas mas a qualidade é outra.
Um indiano sensacional que viveu no século passado, famoso pelo nome de Osho, costumava dizer em seus discursos (hoje transformados em livros) que quando um artista produz alguma obra em atitude meditativa, essa atitude passa para o observador. Ele costumava dizer que a qualidade da obra é diferente do que uma obra feita de forma comum, sem essa atitude. Um de seus exemplos favoritos para ilustrar a idéia de uma obra de arte feita em atitude meditativa é o Taj Mahal.
Depois de ler o post do meu amigo José Eduardo sobre a sensação que o Concerto de Rachmaninoff lhe provoca, tentei lembrar de alguma música que me provocasse sensação semelhante. Apesar de gostar demais desse Concerto, não cito o que ele descreveu. Mas existe uma música que me provoca tais emoções: o segundo movimento do Concerto n. 21 para Piano e Orquestra de Mozart. E foi aí que percebi de verdade o que Osho quis dizer quando se referiu a uma obra produzida em atitude meditativa: a qualidade é diferente. Ela tem a capacidade de fazer o tempo parar e por isso temos a sensação de "delírio" descrita no post do Zé.
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