sábado, 7 de março de 2015

John Lennon

Apesar de não ser meu Beatle favorito (é o George Harrison), fiquei emocionada quando vi o Dakota em uma viagem a Nova York no início do mes, o prédio onde John Lennon morou e na esquina do qual morreu, assassinado por um fã. Dias depois, procurando a biografia do Brian Molko na Barnes&Noble, deparei com a biografia dele, John Lennon, escrita por Philip Norman. Comprei para ler na viagem de volta e acabei lendo mesmo foi em Aruba, durante dias e dias no sol.


A biografia é emocionante. Philip Norman é um ótimo escritor e a leitura flui. Nem se percebe que o livro é enorme, com mais de 800 páginas. E mesmo dando para notar que é fã da banda, ele consegue manter um distanciamento suficiente para não julgar o comportamento de John ou dos outros Beatles, mesmo quando agiam como verdadeiros canalhas.


Foi interessante saber que a parceria Lennon McCartney realmente existiu, eles compunham tudo juntos e não anotavam nada. Se no dia seguinte ambos se lembrassem da música, era porque era boa. Tempos depois, mesmo quando um já não mais participava das composições do outro, as contribuições no estúdio faziam com que o crédito nas músicas - sempre Lennon/McCartney - fossem sempre verdadeiros. Se O-Blah-Di-O-Blah-Da é inteirinha de Paul, o solo de piano é de John.


Eles eram tão ou mais bad boys que os rolling stones e que a imagem de bons moços foi forjada. Nos bastidores, era sexo, drogas e rock'n'roll como a grande maioria das bandas e artistas de rock dos anos 60 e também das que vieram depois. 


Yoko Ono não foi a responsável pelo fim da banda, pele menos não de forma total como passou para a história. A banda começou a se desintegrar antes dela entrar em cena, quando Brian Epstein, o empresário deles, faleceu de overdose em um quarto. Foi ele quem criou a imagem dos Beatles, aquela de bom moço, com ternos iguais e o corte de cabelo que, até então, era exclusividade feminina. Yoko sintetizou tudo o que John Lennon buscava em parceiros e companheiros. Como Brian Epstein já havia falecido, sua mãe biológica morrera quando tinha 18 anos, a parceria com Paul já estava ficando de lado, pelo menos durante as composições, Yoko foi substituindo tudo isso, além da parte criativa, pois John era escritor, desenhista, chargista e ótimo caricaturista.


John Lennon era extremamente inseguro e preocupado com dinheiro. Adolescente, queria ser milionário para não ter que trabalhar em um trabalho comum e poder dar vazão à sua criatividade. Escolheu Elton John para padrinho de seu filho Sean porque, acreditava ele, sendo gay, Elton John não teria filhos e deixaria o dinheiro para Sean.


Era também muito competitivo, principalmente com Paul, a quem chamou de "ex noivo" em uma aparição em um show de Elton John, em Nova York, após a música que gravaram juntos (Whatever Keeps You Thru the Night) ter atingido o 1o lugar nas paradas. Quando descobriu que Paul tinha ganho 25 milhões de dólares, por volta de 1975, fez Yoko assumir as finanças deles enquanto ficava em casa cuidando de Sean, então um bebê. Yoko, que descendia de uma das quatro famílias mais ricas do Japão, pelo lado materno, justamente uma família de banqueiros, assumiu a função e aumentou muito a fortuna deles. Fortuna essa, porém, que só atingiu Julian, filho do primeiro casamento de John com Cynthia Lennon, em 1996 após muitas batalhas judiciais.


O livro conta que Lucy in the Sky With Diamonds realmente é inspirada em LSD. A versão oficial, de que Julian, havia chegado em casa com um desenho retratando uma coleguinha de escola não se sustenta porque John não se preocupava com o filho, não participava de sua vida escolar e na época estava mesmo mergulhado no ácido.


I Am the Walrus é uma grande homenagem a Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas e Alice Por Detrás do Espelho. O que eu não sabia mas o livro conta é que esses dois livros eram os favoritos dele, que os lia até saber tudo de cor. E assim como Carroll, acreditava que o non sense faz mais sentido do que a lógica. Amei saber isso porque sempre fui apaixnada por esses dois livros.


Além de Alice, John Lennon, assim como eu, era apaixonado por gatos. Quando era garoto, encontrou um filhote de persa na rua e levou para casa. Sua tia Mimi, com quem morava, resolveu colocar um anúncio, pois achou que o gato, por ser caro, era de alguém. Não apareceu dono nenhum e eles ficaram com o gatinho, que recebeu o nome de Tim. Mimi conta que o gatinho viveu 20 anos e sempre que o John ligaa, perguntava o que o Tim andava fazendo. No final do livro, quando seu filho Sean conta as memórias que tinha dele, fala que a única vez em que viu o pai chorar foi quando uma gatinha dele, Alice, pulou a janela do Dakota atrás de uma pomba e morreu.


Mas as canções da época ativista perderam um pouco um apelo depois de ler que, já perto de sua morte, quando questionado por um amigo a respeito de seu consumo desenfreado, comprando fazendas de gado leiteiro, mansões suntuosas, enchendo o apartamento de roupas, tendo esse amigo citado verso de Imagine "imagine no earth possessions" respondeu, não muito elegantemente, "it's just a fuckin song!".


O livro também mostra que a grande força criativa por detrás dos Beatles era mesmo John e Paul. O albúm triplo de George, lançado logo após o término da banda e que vendeu milhões (My Sweet Lord até hoje me dá arrepios), era constituído de músicas compostas durante a época dos Beatles e sob a influência da dupla acima. Depois disso, os discos de George ficaram sem inspiração. 


Eu nunca fui muito fã de John Lennon, como já afirmei nesse post, mas o livro me deu uma visão melhor de como era criativo, como era um grande música, desenhista, artista plástico, grande amigo e filho, além de ter sido o primeiro artista a usar sua fama e popularidade para se tornar um ativista. Por outro lado, o livro me mostrou como era egoísta, violento, ingrato e, muitas vezes, cruel e sádico. Mas nada disso diminui sua grande contribuição para a música e a cultura pop que nunca mais foi a mesma depois dos Beatles que, diga-se de passagem, foi uma banda criada por ele.


Ao final, há um capítulo com as lembraças de Sean, filho de John com Yoko Ono. Tinha cinco anos quando o pai foi assassinado. Conta que assim como o mundo todo, sabe mais do pai pela mídia do que pela memória. Fica a pergunta do motivo do livro ter um capítulo com as lembranças de Sean e não as de Julian, que tinha 17 anos quando o pai morreu. Mesmo não tendo tido a convivência que Sean teve, deve ter muitas lembranças. O autor não explicou e eu fiquei realmente curiosa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário