De vez em quando eu em apaixono por algum personagem de um livro. E a paixão é tão forte que fica difícil aceitar que aquela pessoa existe na cabeça de uma outra pessoa. Não digo que não exista no mundo real porque essa história de mundo real é muitíssimo relativa. O real ou irreal está muito mais relacionado com nossas emoções do que com os órgãos dos sentidos, que nos mantém conectados com o suposto mundo real. Aquilo que a sente sente é real. Se é corroborado pelos cinco sentidos é irrelevante.
Voltando ao início. Assim como às vezes me apaixono por alguém que vive dentro de um livro, eu sou tomada de muita raiva de alguém que também vive em um mundo de livros.
A última vez em que isso aconteceu foi com An Equal Music, de Vikram Seth.
Eu já tinha começado a ler A Suitable Boy, mas parei por volta de um terço. Quero voltar e terminar todas as suas 1400 páginas. Mas An Equal Music é bem menor então terminei mais rápido.
Odiei a "mocinha" da história. Ela é o grande amor do narrador do livro, Michael. Pelos olhos dele, é uma mulher lindíssima, sensacional, pianista de talento e que ensinou mais música a ele do que todos os outros professores. Aí ela aparece. Chata, sempre reclamando, nunca diz algo simpático. Chega no apartamento dele para dizer que não deveria ter ido. Para tudo o que ele diz, sempre tem uma cortada. Não sabe o que quer. É amarga. Casada com um filho, não consegue se decidir a respeito de quem ela ama e acaba nunca estando inteira em um lugar.
O mais engraçado é que, apesar dela, gostei muito do livro. Torcia o tempo todo para que ela se desse mal.
Quando é revelado que ela ficou surda, não pude deixar de pensar: bem feito. Sei que é pura maldade da minha parte porque, sendo pianista profissional, ficar surda era não só a perda da possibilidade de ouvir o mundo mas também um ponto final em ouvir música. Ela não tem a carreira interrompida porque consegue tocar sem ouvir, mas não pode mais tocar com outras pessoas.
Enfim, como é que um autor sensacional como Virkam Seth conseguiu criar uma personagem tão chata?
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