Em um texto delicioso sobre gatos (http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/10/nelson-motta-fala-do-sucesso-de-gatos-na-musica-cinema-e-teatro.html), Nelson Motta conta uma coisa sobre a qual nunca me toquei antes: durante o grande período de perseguição aos gatos, na Idade Média, os ratos, livres, leves e soltos, espalhavam a peste bubônica, que matou dois terços da população da Europa.
Anos mais tarde, a feroz perseguição aos judeus por hitler fez com que os maiores cientistas alemães emigrassem, procurando refúgio em outros lugares, Einstein inclusive. Isso impediu que a Alemanha desenvolvesse tecnologia suficiente para construir uma bomba atômica (ainda bem). Quando Max Planck (que não era judeu), um físico respeitadíssimo de 72 anos, procurou hitler, pedindo que ele não perseguisse importantes cientistas judeus (e, até então, alemães), utilizando como argumento a importância deles para a ciência, diz-que o ditador respondeu: "se a ciência não pode passar sem os judeus, a Alemanha pode passar sem a ciência". Nada mais idiota.
Há algumas décadas os argentinos importaram castores do Canadá para criá-los na Patagônia e ganharem dinheiro com sua pele. Só que a Argentina, mesmo na Patagônia, não é tão fria quanto o Canadá. E os castores não tem predadores na Argentina (ursos, lobos, coiotes). Aí o que aconteceu? Ninguém contou para os castores que eles não corriam o risco de ataques de outros bichos e eles continuaram a fazer seus diques enormes. E começou a devastação das árvores na Patagônia, porque os diques são construídos com pedaços de pau, que os castores vão cortando. Além da população ter aumentado muito porque ninguém conseguia usar um casaco de pele de castor, porque não é tão frio assim.
Poderia citar outros mas esses três casos são suficientes para dizer o seguinte: tudo tem um preço. E muitas vezes bem salgadinho. Preço que, na maioria das vezes, não tem nada a ver e talvez as pessoas sequer saibam que estão pagando. Vide o caso dos ratos. Quem perseguia os coitados dos gatinhos nem imaginavam que a falta de predadores fez os ratos se alastrem e com eles a peste negra. E provavelmente se alguém lhes tivesse contado, não teriam acreditado e o coitado que falou teria acabado na fogueira. Mas pagaram o preço.
Assim como a Alemanha. Não sei se teria vencido a guerra com a bomba atômica. Mas para produzi-la precisaria da física desenvolvida na época por cientistas que, na maioria eram judeus. Se tivesse tido uma postura diferente com os judeus talvez não tivesse havido guerra ou, não tivesse havido da maneira como houve.
Não importa nem adianta raciocinar na base do "se".
A questão toda é que pagamos um preço por tudo. Sempre. Nada é gratuito. Mesmo que não saibamos o preço que estamos pagando e nem sequer imaginemos que foi tão caro. Mais cedo ou mais tarde, porém, chega a fatura. Muitas vezes com juros.
Claro que muitas vezes esse "preço" vem sob o disfarce de escolhas. Não podemos ter tudo ao mesmo tempo então temos que escolher algumas coisas. Escolhendo abrimos mão do resto. Deixar de ter algo para ter uma outra coisa já pagar um preço.
Mas acredito que o pior mesmo é o preço que pagamos sem saber, como pagaram os europeus nos séculos XIII e XIV.
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