Amei o texto escrito por Fábio Porchat para o Estado de São Paulo (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,humor-e-ferir-a-moral-e-os-bons-costumes--,1032725,0.htm) comentando a atitude do consumidor que requereu, judicialmente, que um vídeo do grupo humorístico Pela Porta dos Fundos tivesse sua veiculação proibida.
O vídeo narra uma moça em uma lanchonete pedindo um sanduíche e o atendente oferece um negócio chamado "rola". O vídeo gira em torna disso. E aí, um senhor se ofende com o vídeo e quer que ninguém mais assista porque, como ele mesmo falou, é "contra a moral e os bons costumes". E foi por causa dessa história que Fábio Porchat, sócio fundador do Porta dos Fundos escreveu o texto no Estadão. Ele pergunta: moral de quem? Bons costumes de quem? Desse senhor, obviamente. Mas não necessariamente das outras pessoas.
É interessante como os arautos dessa "moral e bons costumes" acham que detém o código de conduta da humanidade e querem impô-lo a todo mundo. Mesma coisa acontece quando grupos religiosos tentam tornar crimes condutas que consideram pecado. Relacionamento sexual entre pessoas do mesmo sexo é considerado pecado? Então vamos criminalizá-lo. Algo me ofende sabe-se lá por que? Quero proibir qualquer outra pessoa de ver.
Essa atitude é típica das pessoas que, por seguirem um código de ética própria, que acreditam que esse Código é O código de ética da humanidade, seja ele religoso ou filosófico. E por seguirem esse código de ética, acreditam que é o único válido e querem impor sua visão a todos os outros. Se o código é religioso, coitados dos "infiéis". Se é filosófico sem caráter religioso, coitados dos "imorais".
E é aí que a vida fica chata. Porque a vida não vem escrita em tabulinhas, como disse João Ubaldo Ribeiro no fantástico Viva o Povo Brasileiro. A vida muda e cada hora a gente precisa agir de um jeito. A própria Bíblia é cheia de contradições porque a vida é assim: não há regras rígidas a serem seguidas por todo mundo o tempo todo. Cada momento pede uma coisa. Jesus mandou dar a outra face quando alguém nos batesse mas entrou batendo nos vendedores do tempo. Quem acha que só dar a outra face está certo, exclui a necessidade de dar umas porradas de vez em quando.
Algo pode ser imoral para mim e ferir os meus "bons" costumes mas nada me dá o direito que proibir quem quer se seja de ver essa mesma coisa. As pessoas não são imaturas. Cada um tem todos os elementos para decidir para si e para seus filhos menores o que é adequado ou não. Achar que as pessoas não tem condiçoes de decidirem por si próprias o que é bom para elas é arrogância pura, pois não estou dentro da pele do outro para saber o que é melhor para ele. Quem sabe o que é bom para o outro é ele próprio. E quem sabe o que é bom para mim sou eu. Não cedo a ninguém o direito de decidir o que é e não é conveniente para mim.E por isso, o que para mim pode ser ofensivo, para outra pessoa pode ser uma fonte inesgotável de gargalhadas. E cá entre nós, o mundo está mesmo precisando de muitas gargalhadas.
E pra terminar,
"Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço;
A (vida) já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu
Aquele abraço!"
Obs.: a letra original diz A Bahia já me deu régua e compasso. Como não sou baiana, fiz só essa alteraçãozinha na letra.
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