sábado, 7 de março de 2015

Relatividade

Com todos os aparelhos disponíveis hoje, os físicos e os astrônomos nos garantem que a única coisa absoluta no universo é a velocidade da luz: trezentos mil quilômetros por segundo ou simplesmente, c.


Todo o resto é relativo. Tempo, espaço, matéria e nós. Até Deus é relativo. Ou melhor, o conceito que temos dele. Já ouvi dizerem até mesmo que Deus é energia. Se é mesmo energia seria algo menor do que o universo, porque caberia dentro da equação: e=mc2 (energia é igual à massa vezes o quadrado da velocidade da luz). E como o criador poderia ser maior do que sua criação?


Sendo Tudo relativo (até a velocidade da luz poderia vir a ter sua relatividade descoberta em um futuro não muito distante, who knows?), viver fica mais fácil. Ou mais difícil, dependendo do caso. Tudo isso porque viver passa a depender da palava síntese da relatividade: depende. Na física, tudo depende do obervador, da massa, da velocidade do observador e do objeto e, claro, da velocidade da luz. Essa mesma palavra também é a reposta para tudo nos relacionamentos. Tudo depende de algo. Na maioria das vezes, tudo depende de muita coisa.


Por exemplo: quando pensamos assim, "se aquela pessoa gostasse mesmo de mim, faria isso, faria aqui, não faria isso, não faria aquilo"? Então. Não necessariamente. Se EU gostasse daquela pessoa ou de qualquer outra, EU faria aquilo e não faria isso, faria isso e não faria aquilo. Mas para saber se aquela pessoa me ama, preciso saber como ela age quando gosta de alguém. Ou seja, depende de como ela age nessa circunstância. O mesmo vale para não gostar. Ou estar triste. Ou alegre. Ou com raiva. Para tudo, enfim.


A questão é: não há definições absolutas que nos guiem para lidar com os outros. Meus parâmetros valem para mim. E só para mim. Não servem para julgar a conduta ou intenção de qualquer outro. E mesmo meus próprios parâmetros valem para determinada hora e situação. Mudando alguma variável (que não tem esse nome à toa), eles também podem mudar. Se um juiz tem as leis e decisões de outros juízes para utilizar como parâmetro e, assim, julgar, nós não temos nada que nos guie pelas infinitas portas das emoções e da mente humana (parafraseando Noel Gallagher em sua Masterplan (The Masterplan, Sony Music 1998).


Uma atitude, uma palavra, um gesto, uma expressã facial tem, no mínimo, dois significados: o que significa para seu autor e o que significa para o seu destinatário. Qual dos dois é o significado real? Depende, claro.


Quando aceitamos a relatividade de tudo, acredito que a vida fica mais leve. Ou mais pesada. Depende, óbvio. Se minha percepção do mundo for ruim, a vida vai ficar mais pesada, penosa, difícil e deprimente. Se for positiva, tudo fica mais alegre e mais colorido.


Coisas absolutas, se existissem, nos daria uma sensação de segurança, que na realidade é falsa. Nada é seguro, nada é permanente, tudo está em movimento. E é bom que seja assim porque aí somos obrigados a fluir com as coisas, a estar sempre em movimento.


E na falta de uma constante como a velocidade da luz, cada julgamento, cada escolha devem ser feitos com a consciência inteira no aqui e agora, com os parâmetros que aquele dado momento e tempo nos fornece. As decisões feitas assim são frescas e não vão se cristalizar, continuando a ser utilizada mesmo quando não fazem mais sentido.


E aí vamos aceitar também as contradições porque elas também fazem parte da vida. Não temos que escolher entre isso ou aquilo. Podemos ficar com os dois e usar cada um quando nos for conveniente. Os físicos quânticos do início do século passado passaram muito tempo discutindo as duas propriedade das partículas subatômicas, que ora se comportavam como onda, ora como partícula. E, para a mentalidade clássica que ainda tinham, o paradoxo era inaceitável, porque se era uma onda, deveria ser sempre uma onda e vice versa. Até que aceitaram o paradoxo de que a partícula ora se comportava como partícula e ora como onda porque possuía ambas as caracterísicas: não era uma ou outra, era ambas. E qual era o critério para a partícula se comportar como onda ou partícula? A atitude do observador. Nada mais subjetivo. Se o observador a analisasse como partícula, ela assim se comportaria. O mesmo com relação a onda. Ao abraçar os dois aspectos da partícula, os físicos quânticos resolveram um dilema aparentemente impossível de ser solucionado e acolheram os dois aspectos de uma mesma coisa. E quando conseguimos fazer isso, conseguimos viver por inteiro.


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