O que nos torna um fim em nós mesmos é a nossa condição de seres racionais: nossa capacidade de pensar. Esta capacidade nos colocaria em situação superior a todo o restante da natureza, ou seja, os reinos mineral, vegetal e animal, bem como às coisas produzidas e criadas pelo próprio ser humano que, por nnao serem dotados desta capacidade de raciocinar, não são um fim em si mesmos e poderiam ser usados, como de fato sempre foram.
Muitos séculos antes de Kant desenvolver sua teoria da humanidade como um fi em si mesma, um outro filósofo viveu na Índia. Seu nome era Sidarta Gautama mas ficou mundialmente conhecido como Buda (O Iluminado).
De acordo com os ensinamentos de Sidarta, são um fim em si mesmos todos os seres sencientes. Ser senciente é a capacidade de experimentar o sofrimento e, aí, não apenas os seres humanos fazem parte mas os animais também.
Entre os dois filósofos, fico com Sidarta. Os animais sentem dor, sofrem, além de também sentirem frio, medo, sede e fome. Sentem também emoções, variando, entre as espécies, a intensidade e modalidade das emoções que são capazes de sentir.
Por conta disso, comer os animais, usar sua pele, torturá-los para depois retirar seu fígado, tirar seus ovos enquanto ainda estão vivos, escraviá-los, fazer experiências dolorosas com eles, tirar seu leite, suas penas, usá-los como instrumento de prática esportiva ou como objeto de caça é moralmente errado. Seria o mesmo que fazer isso com um ser humano.
De acordo com a filosofia budista, a única alimentação correta seria a vegan, que não utiliza nada de origem animal, nem mesmo aqueles que, em tese, não passariam por nenhum sofrimento como as galinhas quando fornece ovos, as vacas quando lhe é retirado o leite ou as abelhas, quando é retirado o mel.
Dizer que não é moralmente correto comer animais porque sofrem tanto quanto nós para as bilhões de pessoas que passam fome, ou para a pessoa pobre que não tem carro, que é errado atrelar um bichinho para puxar sua carroça é complicado.
Mas é possível ver a falta de ética e insensibilidade com o sofrimento alheio em matar animais exclusivamente para roubar sua pele, como se faz com as focas no Canadá, matar um peixe para lhe retirar os ovos ou, pior, retirar os ovos quando ainda está vivo, cortando seu corpo e depois devolvendo-os para a água, como se faz para se retirar o caviar do esturjão, ou, ainda, matá-los por diversão, como faz quem gosta de caçar.
Não consigo mais comer carne porque parece canibalismo. A partir do momento em que comecei a ver os animais como um fim em si mesmos e como os seres sencientes que são e não como uma coisa da qual podemos dispor a nossa prazer, comer carne deixou de ser uma opção.
Também consigo entender que pessoas pobres não tem condições de comprar um automóvel e por isso usam bichinhos como tração. Mas essa compreensão não impede que sinta um nó na garganta quando vejo um bichinho puxando uma carroça pesada debaixo de sol quente, sem água, comida e apanhando. Mas não consigo entender quem anda no mesmo tipo de carroça por diversão, provocando a morte de bichinhos por causa da exaustão, como aconteceu com alguns cavalos em Nova York e em Poços de Caldas também.
Enfim, acho mesmo que o critério para a dignidade deve ser mesmo a capacidade de sentir sofrimento.
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