sábado, 7 de março de 2015

Liberdade?


In Italy, for thirty years under the Borgias, they had warfare, terror, murder and bloodshed, but they produced MichelangeloLeonardo da Vinci and the Renaissance. In Switzerland, they had brotherly love, they had five hundred years of democracy and peace – and what did that produce? The cuckoo clock." (Harry Lime, personagem de Orson Wells no filme The Third Man, de Carol Reed)


Em um texto já citado neste blog ((http://www.wiso.uni-hamburg.de/fileadmin/wiso_vwl/johannes/Ankuendigungen/Berlin_twoconceptsofliberty.pdf), Isaiah Berlin questiona as razões levantas pelo filósofo político britânico, John Stuart Mill, na sua defesa da liberdade individual. Para Mill, a interferência estatal na vida de cada ser humana deve ir até determinado limite porque o ser humano necessita de liberdade para se desenvolver como pessoa, seja no campo das idéias, das artes, da ciência, da filosofia, etc. Não vou discorrer sobre o que Isaiah Berlin fala das idéias de John Stuart Mill a respeito da liberdade, mas acho que a afirmação de que o ser humano precisa de liberdade para se desenvolver como pessoa não tem respaldo fático.


No fantástico Alice Através do Espelho, Lewis Carroll conta uma história interessantíssima. Alice chega a um canteiro de flores e escuta as flores conversando. Admirada ela diz que as flores, de onde ela vem, não tem a habilidade de falar. As flores explicam que a questão toda está no solo e pedem para Alice colocar a mão. Ela coloca e e nota que o solo onde as flores estão é duro como pedra. Aí as flores esclarecem: de onde você vem, o solo é muito macio e as flores estão sempre dormindo, por isso é que você não as escuta falando.


O que motiva o desenvolvimento do ser humano e o florescimento de novas idéias, além da criação de obras novas,é tanto as circunstâncias duras de que se reveste a vida tanto quanto a necessidade de rompimento com o velho para deixar o novo entrar. E a ausência de liberdade funciona como uma mola propulsora para isso. A sua presença, de outro lado, vai trazer uma certa letargia. Um canteiro macio permite que as flores estejam sempre dormindo. Condições de vida confortáveis, ou seja, "macias" também propiciam um sono existencial. 


A frase "a vista é mais bonita em cima da montanha mas é preciso subir até lá" é clichê mas ilustra bem o que estou tentando dizer. Para querer ver o que só é visível de cima do pico eu preciso de, ao menos, ter noção de que há algo mais bonito ou pelo menos diferente do que aquilo ao qual eu tenho acesso. Se não existe essa perspectiva, para vou me esforçar para subir até lá? Acho que é mais ou menos isso que o personagem de Orson Wells em The Third Man e as flores, em Alice Através do Espelho querem dizer.

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