Poucas vezes um livro me deixou tão irritada como esse. Quando terminei de ler, joguei o livro no lixo. Literalmente. Quero dizer, terminei em termos porque devo ter lido apenas uns 3/4 e parei por aí. Não consegui terminar.
Li o livro em 2004, antes de se tornar o fenômeno que se tornou e sem saber bem do que se tratava. Peguei de forma aleatória em uma livraria..
No início, achei que era mesmo interessante, com aqueles mistérios a respeito da morte no Louvre, das pistas que iam surgindo a cada pista descoberta. Mas o interesse durou pouco. Quando é revelado que o segredo todo era o casamento de Jesus com Maria Madalena, pensa: fala sério!!!!!!!!!!!!
A primeira coisa que me irritou foi o próprio segredo. Já tinha lido dois livros com essa mesma idéia: O Santo Gral e a Linhagem Sagrada, de Richard Leigh, escrito nos anos 80 e O Último Merovíngio, de Jim Hougan, publicado em 2000. O primeiro trata a idéia do casamento de Jesus Cristo e Maria Madalena como algo que pudesse ser historicamente comprovado, e é isso que o livro tenta fazer. Já o segundo conta a história do último descendente e sua tentativa de escapulir da prisão de luxo em que se encontra..Fiquei sabendo, ainda, que um ocultista que viveu no século XIX chamado Papus já havia levantado essa hipótese. Os rosacruzes e algumas linhas esotéricas também levantam a hipótese de que houve um homem chamado Jesus, de Nazaré, filho do carpinteiro José e cuja esposa se chamava Maria Madalena. No início desta era, chamada depois de Cristo, este carpinteiro emprestou seu corpo para um Avatar chamado Cristo, que o usou durante três anos para espalhar sua mensagem e depois foi embora para o espaço. Não teria havido qualquer crucificação e o carpinteiro Jesus voltou a viver sua vida normalmente.
Não é só por causa da idéia copiada que o Código da Vinci me irritou. Foi pela manipulação e distorção de fatos, inclusive científicos.
Ao tentar mostrar que as mulheres e o feminino foram relegados a segundo plano ao longo da história e reprimidos por uma sociedade dominada pelos homens, ele menciona que a parte intuitiva, emotiva e feminina do cérebro, o lado esquerdo, é considerado inferior ao lado direito, que é analítico, racional e masculino. Errado. O cérebro governa o nosso corpo de forma invertida: o lado direito governa todo o lado esquerdo e vice versa. Por isso, o lado analítico, masculino e racional é o lado direito. O lado esquerdo é emotivo, artístico e feminino.
A idéia de que o feminino teria sido resgatado por Maria Madalena também é equivocada. Maria Madalena, de acordo com o livor, só adquire o poder e a recuperação do feminino através do que? Do casamento com um homem. Nada mais machista. Se há uma mulher que conseguiu superar a dominação masculina demonstrando que a mulher não necessita do homem foi outra Maria, a mãe de Jesus. De acordo com a simbologia católica, os seres humanos nascem todos com um pecado chamado original. Maria não nasceu. E ela consegue gerar um filho sem ajuda de um homem. E, além de tudo isso, ela consegue, ainda de acordo com a simbologia católica, dominar a cobra, símbolo da entrada do mal no mundo. E é ela, Maria mãe de Jesus, que os pintores retrataram ao longo dos anos.
Finalmente, a Última Ceia não parece um banquete de casamento. Há duas pessoas com aparência feminina no quadro: a que está sentada do lado direito de Jesus e uma que está em pé, do seu lado esquerdo, com as duas mãos no peito, que aparentemente tem seios. De tudo que li a respeito da última ceia, fico do lado da astróloga Emma Costet de Mascheville, que descreve cada personagem do quadro como um dos sígnos do Zodíaco, sendo Jesus o sol. Cada apóstolo é retratado de uma certa forma por um motivo específico. Para quem gosta de astrologia, cada signo tem seu oposto complementar. Na Última Ceia, cada apóstolo é retratado em uma postura e o que representaria seu oposto complementar é retratado de forma contrária. Não vou falar desse livro aqui, porque o posto é sobre o Código da Vinci. Mas vou contar só um detalhe: peixes é o signo que rege os pés. Na última Ceia, o único apóstolo que aparece com os pés de fora é o que está á extrema direita de Jesus, à esquerda de quem olha o quadro, justamente o que representa peixes.
Enfim, não gostei do Código da Vinci pela idéia requentada, pelas informações erradas a respeito de fatos históricos e pelo fato de, na tentativa de elevar a condição feminina, colocá-la apenas como um epifenômeno do sucesso de um homem.
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