Vi no Twitter, outro dia desses, uma frase atribuída a Coco Chanel que dizia mais ou menos o seguinte: “Coragem é pensar por conta própria. Em voz alta”. Pensar a gente pensa o que quiser, como quiser, onde quiser, ninguém fica sabendo e tudo fica bem. Falar o que se pensa é algo muito diferente e sempre causou problemas a quem ousou pensar por conta própria. Em voz alta.
Há mais ou menos 500 anos, não tanto tempo assim, considerando que o homo sapiens está por aí há cerca de 190 mil anos, falar o que se pensava dava fogueira. Há muito menos tempo, aqui mesmo no Brasil, proporcionava alguns dias nos porões da Ditadura (1964/1985), com direito a tortura e, nem tão raras vezes assim, desaparecimentos inexplicados.
Atualmente as coisas são bem mais fáceis. Quem fala o que pensa não corre o risco de virar carne queimada nem de experimentar o sadismo alheio. O custo atual é um achincalhamento generalizado via internet e seus rebentos: as redes sociais. Quem ousa falar o que pensa vai ouvir muita coisa, algumas poucas rebatendo o que foi exposto e quase todas as outras atacando a pessoa, a mãe e a família de quem falou. Com um pouco de coragem e ousadia, dá para aguentar.
Há alguns dias atrás a atriz/escritor Fernanda Torres se envolveu em algo assim.
Ao defender a diferenciação de gêneros homem/mulher (http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2016/02/22/mulher/) e falar que não há nada demais em uma mulher ouvir um fiufiu de vez em quando, atestando a aprovação do autor do fiufiu, foi bombarbeada de todos os lados por pessoas indignadíssimas dela pensar assim. Não deu conta de manter o que tinha dito. Voltou atrás, fez um mea culpa (http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2016/02/24/mea-culpa/) dizendo que disse o que disse porque era a sua visão de mulher branca de classe média. Pediu desculpas.
A polêmica toda me fez pensar. Opinião cada um tem a sua. Defende-se que ter opinião é um direito, ainda que seja a opinião mais imbecil do mundo. Mesmo que se considere a opinião um direito, acho que qualquer opinião deveria ser formada sem leviandade, com base em fatos, depois de muita ponderação e meditação. "Não
é tão fácil adquirir convicções, ou, se chegamos a elas sem fazer
esforço, logo se mostram desprovidas de valor e capacidade de
resistência. (...) De que servem, no campo intelectual, as convicções
apressadas, as conversões fulminantes, os repúdios momentâneos?"(Freud,
Conferências Introdutórias à Psicanálise, Editora Companhia das Letras,
pag. 326). Nem sempre se faz isso, claro. A grande maioria de nós verbaliza opiniões sobre tudo e todos sem pensar duas vezes. Ou melhor, sem sequer pensar. E aí, quando uma avalanche de críticas formuladas por quem também emitiu opiniões sem fundamento e sem pensamento ataca virulentamente a opinião expressada, vemos o acontecer o que sucedeu a Fernanda Torres: um mea culpa muito feio e uma retratação, rápida e tão sem fundamento quanto a opinião emitida antes.
Quem fala para o público precisa agir como Freud descreve na citação acima pensar antes de emitir uma opinião, meditar a respeito, esforçar-se para que a opinião tenha fundamentos sólidos, ainda que não sejam permantes. Porque depois, a opinião emitida vai ser como a flecha: uma vez publicada, não volta atrás. A não ser em um mea culpa todo rasteiro. E se a pessoa é obrigada a pedir desculpas ou alterar o que disse, podemos ter uma de duas conclusões: ou ela não ponderou bem o que disse, não analisou e sua opinião, nessa hipótese, é sem fundamento, ou ela pensou a respeito e, o que disse, é o que efetivamente pensa mas não teve coragem de defender sua opinião contra os ataques. Faltou coragem.
Claro, uma opinião bem pensada e bem fundamentada não precisa ser imutável. A vida flui, circunstâncias se alteram. Sempre haverá críticos para quem muda de opinião e para quem se atém às opiniões de sempre. Ainda Freud, no mesmo livro acima, pag. 328: "Quem já mudou de opinião algumas vezes não merece crédito nenhum, porque torna evidente que pode ter se equivocada também em suas afirmações mais recentes - não é assim? Por outro lado, quem se aferra, inamovível, ao que afirmou certa vez, ou quem não se deixa demover com suficiente rapidez daquilo que declarou, é chamado de teimoso e obstinado. O que fazer diante dessas imputações contraditórias da crítica, a não ser permanecer o que se é e se comportar em concordância com o próprio juízo?" .
Ter opinião, portanto, deve ser algo tranquilo, com alicerce, depois de se pensar e analisar o que envolve aquele assunto sobre o qual a convicção se formou.
Mudar de opinião é bom, sempre que as circunstâncias mudam, sejam elas do pensador sejam da realidade em volta. Manter a opinião também é bom, desde que as circunstâncias e o pensamento assim o justifiquem.
O que é muito ruim é a opinião formada sem alicerce ou aquela que, com alicerces sólidos, não resiste a críticas externas por falta de coragem do pensador. O que remete à frase que abriu esse texto: coragem é pensar por conta própria. Em voz alta. Quase ninguém tem. Ou até tem. Mas não mantém a coragem depois do achincalhamento.
Claro, uma opinião bem pensada e bem fundamentada não precisa ser imutável. A vida flui, circunstâncias se alteram. Sempre haverá críticos para quem muda de opinião e para quem se atém às opiniões de sempre. Ainda Freud, no mesmo livro acima, pag. 328: "Quem já mudou de opinião algumas vezes não merece crédito nenhum, porque torna evidente que pode ter se equivocada também em suas afirmações mais recentes - não é assim? Por outro lado, quem se aferra, inamovível, ao que afirmou certa vez, ou quem não se deixa demover com suficiente rapidez daquilo que declarou, é chamado de teimoso e obstinado. O que fazer diante dessas imputações contraditórias da crítica, a não ser permanecer o que se é e se comportar em concordância com o próprio juízo?" .
Ter opinião, portanto, deve ser algo tranquilo, com alicerce, depois de se pensar e analisar o que envolve aquele assunto sobre o qual a convicção se formou.
Mudar de opinião é bom, sempre que as circunstâncias mudam, sejam elas do pensador sejam da realidade em volta. Manter a opinião também é bom, desde que as circunstâncias e o pensamento assim o justifiquem.
O que é muito ruim é a opinião formada sem alicerce ou aquela que, com alicerces sólidos, não resiste a críticas externas por falta de coragem do pensador. O que remete à frase que abriu esse texto: coragem é pensar por conta própria. Em voz alta. Quase ninguém tem. Ou até tem. Mas não mantém a coragem depois do achincalhamento.
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