A maioria das mulheres gasta muito dinheiro com roupas, sapatos, adereços, tratamentos dermatológicos, cirurgias plásticas, academia. Tudo isso para ficarem bonitas e desejáveis. Algumas, porém, não fazem questão de ser bonitas. Ao contrário, querem que lhes seja garantido o direito de ser barangas, seja lá o que seja esse direito.
A ideia para esse post me ocorreu depois de ler a coluna de Tati Bernardi, na Folha de S. Paulo de 05/06/2015, com o título "Não quero transar". Na coluna, a autora diz que "Mulher mal vestida sofre um bullying que a periguete nem imagina. Se para elas eles buzinam (e fazem aquele barulhinho chato de quem não sabe tomar sopa quente), pra gente aceleram e passam por cima".
Observação: periguete é gíria de dois significados: 1) mulheres com vida sexual ativa e múltiplos parceiros e/ou 2) mulheres que se vestem com saias e shorts curtos, mini blusas, saltos altos, com muita pele à mostra. Já baranga é uma mulher muito feita e/ou mal vestida. A baranga mal vestida pode ser bonita.
A linha de pensamento que permeia a coluna é que mulheres mal vestidas ou feias são odiadas por homens, que não só não buzinam para elas como também "passam por cima". E que as mulheres deveriam ter o direito de não se arrumarem, de serem feias, de não serem femininas, enfim, de não se portarem visando atrair o sexo oposto. Nada mais justo. Não sou contra o pleito dessas mulheres. Quem quer se vestir de forma confortável ligando o dane-se para o sexo oposto, que o faça com os meus aplausos. Como diz minha melhor amiga, cada um é cada um. Ou como diz uma música do Elton John e John Lennon, "whatever gets you through your life".
Mas tenho algumas considerações a fazer a respeito do direito a ser baranga.
A primeira consideração é que homens não odeiam mulheres feias nem barangas. Não atropelam ou fazem bullying. Simplesmente as ignoram, assim como nós, mulheres, ignoramos homens que não nos atraem ou que não consideramos bonitos.
Quanto ao direito de ser baranga, quem é que está proibindo quem de sair de casa mal vestida, com calça moletom GG (para usar o exemplo da coluna)? Ninguém, claro. Porque se houver alguém proibindo, é nítida violação à liberdade de expressão. Não existe regra nenhuma exigindo (ainda bem que não) que alguém se vista dessa ou daquela maneira, como já existiu há nem tanto tempo atrás assim. As mulheres (e os homens também, claro) se vestem como querem.
Mas parece que a colunista se incomoda com o fato de que não é atraente para os homens exatamente por estar mal vestida. "Se para elas (periguetes) eles buzinam (e fazem aquele barulhinho chato de quem não
sabe tomar sopa quente), pra gente aceleram e passam por cima". Oras bolas, a partir do momento em que tomamos uma decisão, seja qual roupa colocar naquele dia ou para onde vamos viajar nas férias, as consequências são inevitáveis. Mulheres barangas tem tanta chance de receberem um assobio de aprovação quanto um homem de salto alto, batom e bolsa chanel tem de ser considerado atraente por alguma mulher.
A questão não é de preconceito nem de machismo. É biológica.
Os animais sabem quem é menino ou menina por causa do cheiro. Nós perdemos isso ao longo do nosso processo de civilização. Nosso olfato é muito limitado para nos situar no mundo. O espaço que ele ocupava (e ainda ocupa) na percepção sensorial dos animais, é hoje ocupado pelo olhar. Se muito antigamente eu sabia que aquele outro homus era um menino pelo cheiro, hoje sei que é pelo visual que ele exibe, roupas incluídas. Por conta disso, a pessoa, em regra, vai se sentir atraída sexualmente com relação a determinado parceiro, se aquele parceiro apresentar sinais de que é do sexo oposto. Mulheres vestidas com calça moletom GG (e cujo número correto seria M), boné, cabelo preso e botas coturno, parecem um homem à primeira vista. Se estiverem ao lado de uma mulher de saia, salto alto, batom e cabelo comprido, sua chance de serem admiradas pelo sexo oposto é praticamente nula. O contrário ocorre também. Homens que se vestem com as roupas socialmente convencinadas para os homens (calças sem frufrus, camisas/camisetas, sapatos baixos e sóbrios), serão atraentes para as mulheres, enquanto homens usando vestidos, salto alto e maquiagem não terão nenhum sex appeal (taras à parte, claro).
Por isso, essa história de "direito a ser baranga", "direito a não ser feminina", "direito a não usar roupas de mulher" não é o pleito ao direito a um determinando tipo de vestimenta. É tentar se esquivar a regras que governam a reprodução humana desenvolvidas durante milhões de anos, e que estabeleceu: o animal (incluído o ser humano de tendências heterossexuais) é atraído pelo sexo oposto, e para tanto, precisa saber que aquele outro animal é, de fato, do sexo oposto. E o que antes se fazia pelo cheiro, hoje se faz pelo olhar: roupas femininas e atitudes femininas para elas, roupas masculinas e atitudes masculinas para eles.
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