
Atualmente há muita gente em cruzadas a respeito de muitas coisas. Gostaria que não houvesse. Porque é muito chato. E sem graça. De onde essas pessoas tiram tempo, energia e disposição para tentar convencer o resto do mundo a deixar de fazer ou a fazer alguma coisa? Como parar de comer açúcar, sal, glúten, gorduras? Ou a não se vacinarem nem vacinarem seus filhos? Ou a não tomarem antibióticos? A não se submeterem a cesarianas mesmo estando grávidas de décuplos? A não beberem álcool? A não usarem jeans? A não andarem de carro, só de bicicleta?
E sempre que leio a respeito de alguma nova cruzada levanto as sobrancelhas. De desconfiança. A última vez foi hoje. Uma senhora australiana, Sarah Wilson, descobriu-se viciada em açúcar. Isso mesmo. Nada de drogas tradicionais como cocaína, heroína, crack, a boa e velha maconha, LSD. Seu motivo de queda foi o nosso querido e amado açúcar. Viciou-se nele. Ao se descobrir viciada nessa droga, a senhora Sarah decidiu deixar o açúcar de lado. Adverte: não era viciada nos açúcares ruins, só nos bons. E eu que nem sabia que existem açúcares bons e ruins. Sempre achei todos muito bons.
Na reportagem a respeito da cruzada da Senhora Sarah, publicada na edição de hoje do jornal O Globo (http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/somos-todos-prisioneiros-do-acucar-diz-sarah-wilson-autora-de-best-seller-19054464), ela conta como seu vício a fez mudar de vida, a deixar de lado essa substância tão aterrorizante. Escreveu um livro, claro. E conta que os australianos estão particularmente engajados na discussão sobre o açúcar. Nada mais natural. Imagino que os habitantes daquele gostoso país não tenham algo melhor do que frequentar aquelas praias, aproveitar o sol, os cangurus, o surfe, o deserto vermelho, para participarem de discussões tão profícuas e importantes como essa, a respeito desse vilão horroroso: o açúcar.
Fiquei assustadíssima, claro. Jamais achei que algo tão doce e tão saboroso fosse droga. Imagina. Sempre foi a matéria prima daquilo que a vida tem de melhor. Quando vi a foto da Senhora Sarah, na frente de uma banca de frutas saudáveis pensei: trocaria todas por uma colher de doce de leite bem pastoso. Ou um bombom de licor de cereja. Ou uma torta mousse de limão. Acho que sou irrecuperável. Se houvesse um CID para dependentes em açúcar, eu já estaria aposentada. Por dependência química.
Mas não a senhora Sarah. Depois que conseguiu superar o vício físico, conseguiu superar o vício emocional, substituindo lanches doces por salgados. Imagino que um sanduíche de pão de centeio, beterraba, cenoura, pepino temperado com dois grãos de sal e óleo de girassol seja um substituto perfeitamente aceitável por uma trufa de cereja (ahhhh as trufas de cereja....).
A Senhora Sarah continua contando que hoje leva uma vida muito mais saudável, comendo o que ela chama de "comida de verdade": nada que venha em latas. E que nenhum adoçante é bom. Fiquei imaginando o que a coca zero que eu bebi no jantar está provocando no meu corpo...
Como ninguém é de ferro, a senhora Sarah tem suas recaídas no vício do açúcar. Mas anota essas recaídas. E sugere que ninguém seja duro consigo mesmo. Entendo. O que não entendo é a necessidade de se escrever um livro para tentar convencer as pessoas de que comer açúcar é ruim e que é um vício. E pior, propor um programa de reabilitação. Porque, como disse no início deste texto, não consigo entender o que leva uma pessoa a deixar sua vida de lado para tentar doutrinar as demais a respeito do que devem ou não comer, do que devem vestir, do que devem fazer. Tenho essa dificuldade porque sou adepta da liberdade de cada pessoa em viver como bem entende. E do direito de cada um em arcar com as consequências das suas escolhas. Inclusive com uma eventual diabetes.
Enquanto isso, preciso conversar com os restos do Ovo de Páscoa. Normal. Com açúcar. Muito açúcar.
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