domingo, 29 de abril de 2018

O Poder de Um Nome



Foi retweetado por uma pessoa que sigo no twitter o seguinte: “Estava sendo atendida por uma médica (que é militar então tem seu nome no jaleco), uma outra mulher perguntou “Porque você não usa o sobrenome de casada?”. E ela subiu na p*** de um salto de 15 que eu não vi mas com certeza tava lá, e respondeu “Porque fui eu quem se formou em medicina, não meu marido.”
Parece que esse post já havia sido publicado antes, em inglês, por outra pessoa, e quem publicou aqui no Brasil só traduziu.
O que me chamou a atenção nem foi o fato de que alguém aparentemente traduziu um post do inglês e postou como se fosse próprio. Foi a frase propriamente dita, de uma superficialidade e contradição que me deixaram dando risada.
A médica não usa o nome de casada porque quem foi na faculdade de medicina foi ela e não o marido. Então tá. Pergunto eu: Por que ela adotou o nome de casada então? Por que não seguiu usando seu nome de solteira?
Como ela usa o nome de solteira, presumo que o nome é o que ela herdou do pai. Outro homem. Nesse caso, e pela lógica do post, quem foi na faculdade de medicina foi o pai dela. E se ela não tem o nome do pai, então quem foi é a pessoa de quem ela herdou o nome.
Gente, ninguém nasce com um nome original. Sempre herdamos de alguém, que já usava esse nome antes. E aí alguém escolhe nosso primeiro nome e herdamos o sobrenome, na maioria das vezes do pai e da mãe (pelo menos aqui no Brasil), ou como na esmagadora maioria dos países, só o do pai, como é meu caso. Então, se formos ver as conquistas pelo nome de quem que ostentamos, nunca seremos nós seus donos, serão sempre de quem pegamos o nome.
Ou seja, ninguém tem nome original. Ele só vai se tornar nosso mesmo quando nós o formos construindo ao longo da vida. E quando construímos um nome, pouco importa de quem ele chegou até nós: marido, pai, mãe, etc.
Quando a Tina Turner se separou do marido, Ike Turner, com quem tinha uma banda, ela abriu mão de qualquer dinheiro ou bem para ficar com o nome dela. Turner era nome dele, não dela, cujo nome de solteira era Anna Mae Bullock. Mas depois de alguns anos tocando com ele, já casada e com o sobrenome dele, ela se tornou maior do que o nome Turner. E aí Turner passou a ser o nome DELA, ainda que ela o tivesse pego do ex marido. Com a Luíza Brunet foi a mesma coisa. Não faço ideia quem foi o primeiro marido, de quem ela adotou o nome. Ela foi além do nome, se tornou maior que ele. Brunet é nome dela, relacionado com ela, usado por ela. A própria filha dela, de outro pai que não o Brunet do nome, também usa Brunet. Por causa da mãe, porque a mãe se tornou maior que o nome e por isso o nome passou a ser dela.
Maria Sklodowska (alguém já ouviu falar dela?), nasceu na Polônia na segunda metade do século XIX, mudou-se para Paris onde conheceu seu marido, tendo adotado o nome dele. Começaram a trabalhar juntos. Ganharam um prêmio Nobel em razão desse trabalho em 1903. Ele morreu em 1906, ao ter a cabeça esmagada pela roda de uma carruagem durante uma tempestade. Ela continuou o trabalho que tinham começado. Na década de 20 ganhou outro Nobel, dessa vez sozinha. A única pessoa a ter ganho dois prêmios Nobel em áreas diferentes da ciência. Ela é conhecida pelo nome de casada, Marie Curie. Também tornou-se maior que o nome, apropriou-se do nome do marido que passou a ser dela, porque ela é a única responsável pelas conquistas que a consagraram. E quando alguém falam em Curie, é ela quem vem primeiro à mente de quem fala, não ele.
Tem uma história dela que me deixa com vergonha alheia das feminzais que a cada nove palavras, nove são “patriarcado” e que além de vociferar contra os homens nunca conquistaram nada de significante.
Foi o seguinte (já contei essa história aqui antes): Quando seu segundo prêmio Nobel foi anunciado, ela estava em Solvay, na Bélgica, participando de uma conferência de cientistas. Enquanto estava lá, alguém entrou em seu apartamento em Paris e deu para os tabloides provas (na maioria, cartas) de que ela estava tendo um caso com um colega casado. O comitê do Nobel entrou em contato com ela, pedindo para que ela não fosse receber o prêmio por conta do escândalo. Ela respondeu muito calmamente que a vida particular dela não tinha nada a ver com a profissional, e que iria receber o prêmio sim. E foi.
Por isso, lembrem-se: um nome é só um nome se nós não nos tornarmos maiores do que ele e o engrandecermos com nossas conquistas, independentemente do nome ter vindo do pai, mãe, marido. Porque aí, ele vai continuar sendo apenas o nome de quem nos deu.
Um homem não vai dar o nome dele a uma mulher que ele não a considere digna, e uma mulher não vai adotar o nome do marido se não o considerar digno o suficiente para ter o nome dele ao final do nome dela. Isso é uma demonstração de amor.
O que vamos fazer do nome que nos deram quando criança ou que adotamos ao nos casar é o que vai mostrar o que fizemos da nossa vida propriamente dita.
Digo tudo isso de cima dos meus saltos de 15 cm.